domingo, 21 de outubro de 2012


REVIVEREDE DE VIGILÂNCIA DE VETORES

O aumento anormal da temperatura que tem vindo a ser observado tem excedido largamente as variações climáticas naturais dos últimos séculos. Segundo os estudos mais recentes, a origem do aquecimento global tem estado associada ao aumento da emissão de gases com efeito de estufa resultantes da atividade humana.
Ao nível da saúde, estima-se que um dos principais impactes resultem do aumento da incidência de doenças infeciosas, principalmente de doenças transmitidas pela água e por vetores.
Considera-se que o risco de doenças transmitidas por vetores venha a aumentar na sequência quer da alteração da distribuição geográfica dos vetores, quer da extensão do período de época de transmissão.
Relativamente ao impacte das alterações climáticas nas doenças parasitárias em Portugal, a Revista Portuguesa de Saúde Pública aponta para que nos casos em que as doenças são endémicas, o principal fator de risco seja a temperatura e, para aquelas que não o são, seja a introdução de vetores infetados.
A compreensão dos principais impactes das alterações climáticas na saúde humana a médio e longo prazo é fundamental para o desenvolvimento de medidas de adaptação que permitam ao Homem precaver-se e minimizar esses impactes.
Como resposta e vigilância das autoridades de saúde a este assunto conduziram à criação do REVIVE, sediado no Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infeciosas, com o objetivo de responder à necessidade de melhorar o conhecimento sobre as espécies de vetores presentes no país, a sua distribuição e abundância, contribuindo para o esclarecimento do seu papel como agentes de transmissão de doença, assim como detetar atempadamente introduções de espécies invasoras com importância em Saúde Pública.

Desta forma, privilegiando a prevenção, em detrimento da resposta à emergência, a vigilância permite detetar atempadamente qualquer alteração na abundância, na diversidade e papel do vetor, levando as autoridades a definir medidas que contribuam para a proteção da Saúde Pública.

O REVIVE permite de forma contínua cumprir os seguintes objetivos:
  • Vigiar a atividade de artrópodes hematófagos (carraças e insetos transmissores de doenças), caracterizar as espécies e a ocorrência sazonal em locais previamente selecionados;
  • Identificar agentes patogénicos importantes em Saúde Pública transmitidos por estes Vetores;
  • Emitir alertas para a adequação das medidas de controlo, em função da densidade dos vetores e do nível de infeção.
O INSA como entidade competente na vigilância, formação e disseminação de informação sobre este assunto, através do Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infeciosas (CEVDI), tem vindo a desenvolver estas atividades, ao longo dos anos, dirigidas especialmente aos Técnicos de Saúde Ambiental (que participam nas capturas em todo o país), a Médicos e outros profissionais de saúde.

A captura de “Culicídeos - mosquitos”: tem início em Maio, em função do período de atividade destes vetores, e decorre até Outubro, com a participação das ARS Alentejo, Algarve, Centro, Norte e IA Saúde Madeira.

A Unidade de Saúde Pública (USP) onde me encontro a estagiar colabora no desenvolvimento  deste programa realizando:
  • Identificação e selecção de locais de colheita em função de zonas consideradas de maior risco;
  • Realização da colheita dos vetores (mosquitos adultos e imaturos; carraças);
  • Expedição das colheitas efetuadas para o INSA/CEVDI;
A captura de mosquitos abrange as diferentes fases do seu ciclo de vida, como pode ser verificado na figura em baixo. 






Foi neste sentido que tive a oportunidade de participar numa colheita de mosquitos adultos e colheita de larvas e pupas.
Os mosquitos com atividade crepuscular e noturna são capturados com uma armadilha luminosa tipo CDC. Esta armadilha é munida de um foto sensor que permite que o sistema elétrico só funcione entre o anoitecer e o amanhecer. Junto à armadilha é colocado um saco com gelo seco com o objectivo de o mesmo simular a respiração animal através da libertação de CO2 (dióxido de carbono), facilitando e aumentando desta forma a eficiência da captura. 
Sendo esta metodologia adotada pela USP onde me encontro a estagiar, a armadilha foi colocada ao final da tarde e foi levantada no dia seguinte de manhã, a mesma foi alimentada por uma bateria com a capacidade de uma noite de captura. 
No caso da colheita de larvas e pupas o método utilizado é através de um camaroeiro, posteriormente a colheita é transferida para frascos de recolha. 
Estas colheitas são realizadas de 15 em 15 dias, ás 2ªs  e 3ªs feiras. O local em que são feitas as colheitas é importante pois o mesmo deve ter impacto na população, o habitat deve ser urbano ou peri-urbano, no caso da colheita de mosquitos adultos deve haver na periferia a presença de locais que sejam criadouros (lagos,charcos) e os locais devem ser contínuos.
Após a colheita dos vários estadios de mosquitos as mesmas são identificadas, colocadas em frascos, numa caixa de esferovite com um acumulador de frio e acompanhadas de um Boletim de Colheita. Estas amostras seguem em correio azul para o Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infecciosas/Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
O objectivo é detetar se existem mosquitos infectados que possam transmitir ao homem doenças, como a malária ou o dengue.
Como futura Técnica de Saúde Ambiental (TSA) considero o REVIVE um programa de extrema utilidade, pois a importância dos mosquitos em saúde pública é por demais justificada pelas doenças que os mesmos transmitem ao Homem.
Por isso é essencial que as entidades de saúde desenvolvam programas de vigilância para que haja um maior conhecimento das populações de mosquitos e da introdução das espécies exóticas, para que desta forma actuem de uma forma responsável com as medidas de prevenção necessárias, privilegiando sempre a saúde pública.

Em suma:
 É necessário privilegiar a Vigilância e a Prevenção para evitar a Resposta à Emergência.





Ficam aqui as fotos da colheita dos vários estadios de mosquitos:


Foto 1: Armadilha tipo CDC com saco de gelo seco
Foto 2: Armadilha com a bateria ligada 


Foto 3: Colheita de mosquitos imaturos em meio aquático

Foto 4: Amostra de larvas e pupas

Foto 5: Amostra de mosquitos adultos

Foto 6: Amostra já acondicionada para ser enviada para o INSA

Fontes: 
- Revista Portuguesa de Saúde Pública, disponível em http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252009000200007 ;
       

Para descontrair.....







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